ONU: novo relatório alerta que mudança climática ameaça progresso sustentável
Os impactos da mudança climática e a crescente desigualdade entre países e dentro dos países estão prejudicando o progresso da agenda 2030. O último relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU faz um alerta sobre a ameaça de uma reversão de muitos dos ganhos obtidos nas últimas décadas que melhoraram a vida das pessoas.
Lançado esta semana durante a abertura do Fórum Político de Alto Nível das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o relatório traz os últimos dados disponíveis. O estudo continua a ser o pilar utilizado para medir o progresso e identificar lacunas na implementação de todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODSs.
ODDs
Quatro anos após a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o projeto mundial para um planeta mais justo e saudável, o relatório registra avanços em algumas áreas. Entre elas, está a redução da pobreza extrema, a imunização generalizada, a redução das taxas de mortalidade infantil e o aumento do acesso à eletricidade.
No entanto, o relatório alerta que a resposta global não tem sido suficientemente ambiciosa, sendo que as pessoas e os países mais vulneráveis são os que sofrem mais.
Alerta
Para o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “é evidente que é necessária uma resposta muito mais profunda, mais rápida e mais ambiciosa para desencadear a transformação social e econômica necessária para alcançar os nossos objetivos para 2030.”
Segundo o relatório, a falta de progresso é particularmente aparente entre os objetivos relacionados ao meio ambiente, como a ação climática e a biodiversidade. Outros importantes estudos lançados recentemente pela ONU também alertaram para uma ameaça sem precedentes à biodiversidade e a necessidade urgente de limitar a elevação da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
O estudo aponta ainda que os impactos da deterioração ambiental estão afetando a vida das pessoas. Condições meteorológicas extremas, desastres naturais mais frequentes e severos e o colapso dos ecossistemas estão causando maior insegurança alimentar e piorando a segurança e a saúde das pessoas, forçando muitas comunidades a sofrer com a pobreza, o deslocamento e o aumento das desigualdades.
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, Liu Zhenmin, alertou que o relógio para tomar medidas decisivas sobre a mudança climática está correndo. Ele destacou ainda a importância de fortalecer a cooperação internacional e a ação multilateral para enfrentar os desafios globais monumentais.
Desafios e Soluções
Liu acredita que os desafios destacados no relatório “são problemas globais que exigem soluções globais” e que “assim como os problemas estão inter-relacionados, as soluções para a pobreza, a desigualdade, a mudança climática e outros desafios globais também estão interligadas”.
Apesar das ameaças, o relatório demonstra que existem oportunidades valiosas para acelerar o progresso, alavancando as interligações entre os Objetivos. A redução das emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, anda de mãos dadas com a criação de empregos, a construção de cidades mais habitáveis e a melhoria da saúde e da prosperidade para todos.
As Nações Unidas sediarão as cúpulas sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática, assim como outras reuniões cruciais durante a semana de alto nível da 74ª Sessão da Assembleia Geral em setembro.
Algumas das principais questões apontadas no relatório:
Desigualdade
O relatório alerta que o aumento da desigualdade entre os países e dentro deles requer atenção urgente;
Três quartos das crianças com atraso de crescimento vivem no sul da Ásia e na África subsaariana;
A pobreza extrema é três vezes maior nas áreas rurais do que nas áreas urbanas;
Os jovens têm maior probabilidade de estar desempregados do que os adultos;
Apenas um quarto das pessoas com deficiências graves recebe uma pensão por invalidez;
As mulheres e meninas ainda enfrentam barreiras para alcançar a igualdade.
Clima
O ano de 2018 foi o quarto ano mais quente já registrado;
Os níveis de concentração de dióxido de carbono continuaram a aumentar em 2018;
A acidez oceânica é 26% maior do que na época pré-industrial e está projetada para aumentar em 100% a 150% até 2100 na taxa atual de emissões de CO2.
Extrema Pobreza
O número de pessoas vivendo em extrema pobreza caiu de 36% em 1990 para 8,6% em 2018, mas o ritmo da redução da pobreza está começando a desacelerar à medida que o mundo luta para responder à privação arraigada, conflitos violentos e vulnerabilidades a desastres naturais;
Caso mantenha-se no atual ritmo, o mundo não vai alcançar a meta de ter menos de 3% da população vivendo nessa condição até 2030;
De acordo com as estimativas atuais, é mais provável que essa taxa fique em torno de 6%. Isso representa 420 milhões de pessoas;
Conflitos violentos e desastres naturais têm influência sobre esse número. Na região árabe, a extrema pobreza era calculada em menos de 3%. Contudo, os confrontos na Síria e no Iêmen levaram a um aumento da taxa de pobreza na região, deixando mais pessoas sem ter o que comer e sem ter onde morar.
Fome
A fome voltou a crescer no mundo, com 821 milhões de pessoas subnutridas em 2017, segundo dados compilados pelo relatório;
Em 2015, o contingente de indivíduos passando fome era estimado em 784 milhões de pessoas;
Atualmente, uma em cada nove pessoas no mundo não têm comida suficiente;
A África continua sendo o continente com a mais alta prevalência de subnutrição. O problema que afeta um quinto da população africana, o equivalente a mais de 256 milhões de pessoas.
Saúde
O relatório ressalta que pelo menos metade da população mundial, o equivalente a 3,5 bilhões de pessoas, não tem acesso a serviços essenciais de saúde;
Em 2015, segundo a pesquisa, estima-se que 303 mil mulheres em todo o mundo morreram devido a complicações na gravidez e no parto. A maioria dessas gestantes vivia na África Subsaariana;
A pesquisa da ONU aponta ainda que o progresso se estagnou ou não está acontecendo rápido o suficiente para combater doenças como malária e tuberculose. Eliminar essas infecções, como ameaças de saúde pública, é uma das metas do ODS nº 3, sobre saúde e bem-estar.
Igualdade de gênero
Globalmente, nos últimos 12 meses, em torno de 20% de todas as mulheres com idade de 15 a 49 anos sofreram violência física ou sexual cometida pelo próprio parceiro;
O índice de agressões é mais alto nos 47 países mais pobres do mundo, um grupo de nações que a ONU chama de países menos desenvolvidos;
O relatório aponta que alguns indicadores sobre igualdade de gênero estão melhorando. O levantamento lembra a queda significativa na ocorrência da mutilação genital feminina e no casamento infantil, mas ressalta que os números para essas violações de direitos continuam altos;
A pesquisa vê progresso insuficiente em questões estruturais que estão na raiz da desigualdade de gênero. Entre os problemas citados pelo documento, estão a discriminação legal, normas e atitudes sociais injustas, o processo de tomada de decisões sobre questões sexuais e reprodutivas e os níveis baixos de participação política. Esses desafios estariam minando os esforços para cumprir os objetivos da ONU. Com ONU News